quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O paraíso da cultura.

Porque tem que ser.
Porque também quero viver.
Porque pode ser tarde, cedo, o certo é gener.
Pois então. Viva a rainha.
Viva os jardins plantados na cidade.
Hurra natureza Majestade minha!!!
Viva quem planta amor e saudade.
Porque o meu festejo é aqui vos ter.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Titulo permanente.

Mergulho agora e abandono este fado.
Tomo o banho nas águas de rejuvenescer.
Entrego-me ao meu destino para o meu amor sobreviver.
Este corpo vai agora voltar a ser o que era. Teu amado.

Titulo permanente.

Farei mais, prometo. Vou continuar, o desconhecido enfrento.
Faço o caminho que tenho de fazer, continuarei com alento.
Mergulharei nas águas da juventude, que o céu despeja no lago.
Sentirei os meus pulmões a arder e o delírio do teu afago.
Não ficarei imóvel. Vou dominar, apenas para te libertar.
Quero conquistar aquela liberdade. Passear pelo mundo e soltar,
Libertar a tua vontade e fazer crescer o desejo de amar.
Lutarei sempre contra o meu medo. A coragem vai reinar.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Titulo permanente.


Vou rejuvenescer e ser um galant, um guerreiro
Todo inteiro. Largo este sentimento, insultuoso, forasteiro.
Olha bem para o que escrevi. Pensa no que vivi.
Foi tudo para ti. Rastejo, é certo, engano o coveiro.
Sei ti sou oco. Sou a memória do que fui. Para ti sobrevivi.
Abandonas-me e sou apenas metade. Sou estrangeiro
Na minha terra onde me viram crescer mas não me conhecem
Tudo o que sonha-mos fica na almofada, os “e se” reinaram
Num território baldio, sem dono, as flores e as arvores não crescem
O vento não sopra e a chuva não molha. Fico virtual…
Depois de tantas esperas, traços, letras, tudo fica igual.
Ai que dor esta que me trata tão mal. São as mágoas que padecem.

Titulo permanente.

Imaginar o pedinte, da minha caridade, com sarcasmo se rir.
Fiquei. Fiquei e ficarei. Sabes onde me encontrar
Todo eu sou interrogações, temores de embriagar
O mais corajoso dos destemidos que está para vir.
Neste prédio que todos me tocam por que podem
Imaginam apenas o que podia ser, humildemente me acodem.
Sabem o que se passa, entendem a minha dor
Sabem bem porque o meu coração perdeu o calor
Sou lido e observado e isso só não basta. Preciso amor.
Quero sair de mim, provar-te que não tenho fim.

Titulo permanente.

Sou cérebro que não esquece e não adormece
Aquele sono que temos em criança.
Sou preocupação, sou ansiedade na maldade,
Sou travão, sou a tesão guardada com paixão.
Quero ser o que pediste. Se não sou triste.
Ser pedido e não aceite é assalto no coração.

domingo, 21 de novembro de 2010

Titulo permanente.

Visto negro, com um pouco de cor viva
Tem que existir um pouco de alegria altiva,
Tem que existir a minha marcha cativa,
Tem que existir alguma coisa neste poço,
Que não seja só negrura, só osso.
Só olhos vermelhos de carência de ternura.
Que toda que me foi dada aceitei e sempre me recordarei
Sou sangue que sente a fervura e apura.

Titulo permanente.

É deixar tudo o que sou para seres, por mereceres.
Falta pouco. Sinto nesta corrente que vem no ar
O meu corpo gasto só sabe o que é a frente
E por mais que tente, sabe porque se está a sacrificar.
É por amor, é o primeiro amor ausente.
É a lua que chora na minha memória…
Estou doente neste presente sem glória.
Aceito estar demente, aceito a cura bruta
Não, não desisto ainda estou nesta luta.

Titulo permanente.

Como pode o coração doer tanto.
O diagnóstico não é velhice, é amor
É esforço de querer ser ouvido. Silencio no meu pranto.
É a loucura que aceitei. Por julgar que fui eu que criei.
Era tua, agora é minha. Assim quem me vai agarrar?
Não sei onde estás, nem sei se é tua a voz que oiço,
Sei que me perdi para te encontrares. É amar.

sábado, 20 de novembro de 2010

Que entre o Mago e vire o jogo ao contrário.
Que a Estrela não deixe brilhar e que a Papisa me venha iluminar.
Mãe de todo o equilíbrio do espírito Mundo.
Deixo-me então dentro de mim com a Lua cheia, sem fim.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Papa que reúne e fala da boa fé, da esperança e na boa reuniam. O que passa a palavra do divino, o que conserva a comunidade em harmonia para consigo e para o exterior. É o conselheiro espiritual…

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Mãe justiça que me enfeitiça e empurra para a frente. Que me diz o que tem que ser bem medido e dividido, pesado pelos factos nos tempos alterados sem olhos vendados. Valores da humanidade por imposição do caminho da felicidade e da produtividade.
Pai imperador que impõe, por imposição do tem que ser, nem por vontades menores, se demove. Imposição do destino maquinal cuja boa vontade tem que ser a de dignificar a propriedade comum. Tirano para com os erros e brutal nas decisões. Cargo que defende com tropas guiadas por um ceptro.
Estrela, mulher molhada de jarros nas mãos dança nua dentro de um lago, brinca na corrente que nem vejo para onde segue; é certo mas todos sabem onde vai desaguar lá mais a frente. É desejo, é certo. É ternura num sorriso cheio de frescura, que me apazigua e cura.

sábado, 13 de novembro de 2010

Quadra da noite passada.


Só. Na rua. Espero quem não vem.
Procuro, mas sou achado.
O vento faz-me a vista chorar.
Sou quem tem o fado de esperar.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Mãos nas obras.

As noites ficaram frias, longas, escuras e frias.
Durante o dia reina a aflição e o suor
As mãos calejadas, agora nunca estão vazias
E as condições estão longe de ficar melhor.

Os imperadores reclamam;
Os inquilinos exclamam;
Os patrões não avançam;
Os tempos não adiantam.

As infiltrações alastram negras, pesadas e húmidas.
Os vidros racham com o vento feroz, violento.
Ser omnipresente com todas as tarefas cumpridas;
Esforço-me para ninguém dormir ao relento


Escrita dada.
Escrevo porque a mão não sabe ficar parada.
Escrevo para o coração deixar de sentir nada.
Escrevo para sentir a tua alma ficar iluminada.
Escrevo a verdade, a mentira é coisa rasgada.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

CL-74-94

O mistério misterioso do jaguar azul-escuro:
Matricula setenta e quatro, C.L.
Noventa e quatro; inconfundível.
Conduzido por um espírito livre, duro.

Dizem que tinha o destino do sangue real
Que invadia a estrada com poesia ancestral
Com a mestria dos esquecidos, condução visceral
Nunca o asfalto sentiu algo igual

Nunca mais ninguém o viu. Esfumou-se.
Desapareceu das ruas, das avenidas,
Das sucatas, das calçadas, das zonas temidas.
Nem a irmandade sabe. Simplesmente apagou-se.

Se alguém o vir por ai diga-me a mim
Porque a minha preocupação não tem fim
Manifesto a minha ansiedade assim,
Para lá das nuvens, existe Sol, sim.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Banal nada igual.

Não sou igual a ninguém,
Sou semelhante é certo.
Talvez cúmplice de alguém
Sou incompleto, alerto.
Falta-me que não vem.
Sou coração aberto
Sou velho, crente do bem.
Fui jovem além…
No tempo em que acerto.
No peito soluço, também;
Sou mártir voluntário;
Sou correcção, erro incerto.
Sou esquecimento no diário.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Prazer de perdição.

Para lá de meia década uma imagem faz-me tremer. Transporta-me no tempo em que estava a começar a perder e o corpo curvava-se na corrida para vencer. Creio que primeiro a imaginei numa voz insistente que me queria convencer, apenas por palavras se quis descrever. Uma mulher muito bonita, feita a três quartos para o retrato. Uma mulher muito elegante, sentada numa cadeira retráctil. Altera-me, mas vou adiante. Está nua. Tapa meio rosto com uma máscara africana, de pau-preto que segura com as duas mãos de dedos longos e esticados, perfeitas como o conhecimento dos anciãos. Meia face de desejo que morde o lábio inferior fecha os olhos com as pálpebras a deslizar, talvez por imaginar a excitação do seu amor. Sobrancelhas naturalmente desenhadas a pincel fino, na mão de um génio que já observou todas as divas encantadas. Sei que sentiu calor, suada no ventre delgado e cabelo curto, seguro por de traz das orelhas, molhado. Apoia o troco para o lado esquerdo, apoia-se com o braço aberto no espaldar, descontraída, parece não ter medo. O direito toca no peito, aconchega-o ao de leve, distraidamente, toca-lhe no princípio da curva do seio cheio, nobreza forte e feminina de tamanha beleza. Mamilos da cor dos lábios, rosados, quiseram na sua natureza que fossem dessa cor pintados. Redondos, rijos, tentadores, húmidos, pele fina, branca, lisa, divina, fazem os deuses adoecerem de amores. Traz as marcas do Sol, marca da armadura de tecido que não está presente, é apenas sugerido. Marcas de quem procura viver, lutar e sobreviver. O pescoço e os ombros parecem fazer um movimento definido, fazem-me soltar um gemido que abafo para não ser ouvido. Foi esculpida na mais perfeita medida. Na barriga suada, vejo um umbigo com uma jóia cravada por dois diamantes distintos, centrada numa anca que põe a minha alma totalmente embriagada. Tem as pernas juntas, a lembrarem um vale paraíso. Não lhe vejo o sexo, apenas um doce manto castanho caju. Uma língua de pelo suave, que nasce daquele vale; no cimo daquelas três linhas de carne e pele que envergonham o mel, nem as abelhas conhecem doçura igual. Duas coxas torneadas, colada uma à outra, escondem o que os olhos não poder ver, sensatamente, não fosse a humanidade se perder, nesta visão de enlouquecer. Posso imaginar os joelhos, os gémeos, as canelas, os pés, mas não posso observar. Ficam na minha imaginação, ficam no meu exercício de memória e da vossa, se for bravo o vosso coração. Só pode ser a continuidade desta beleza infinita, que descrevo e me quero perder. São pernas que conheço e vi crescer, tornaram-se iguais ás dos retratos que os artistas querem descrever. Quanto mais olho, mais cego fico, tudo o resto perde o interesse de ver.
É um corpo de mulher, fotografado e revelado. É um corpo que fala o que lhe vai na alma, que se esconde e mostra o que eu posso ver. Durante anos, paro no tempo para observar. Meio rosto descoberto, uma face que conheço há muitos anos. Provavelmente já conhecia antes de nascer, sinto como uma verdade, por mais absurdo que voz possa parecer. É âmago, essência, paixão, pessoa, probidade, é a minha descrição do prazer de perdição.

domingo, 17 de outubro de 2010

A queima.

O tem que ser tem força, e ninguém trata do que é meu. Veio o dia amanhecer e a tarefa era queimar o mato selvagem que durante o verão, no quintal, vi crescer. Tinha tudo já cortado, amontoado e colocado com cuidado no chão destinado. Já estava seco, pronto para ser queimado, cumprindo as normas, não fosse um erro dar cabo do meu ordenado.
Com a tenaz segurei uma acendalha, acendi um fósforo e peguei-lhe o fogo. Debrucei-me sobre o monte, e com delicadeza poisei-a dentro dos absurdos. Vi as labaredas a lamber os ramos secos, que estalavam por estar a ferver. Amarela e laranja a chama fez-me ver que algumas das ervas não perderam o verde vibrante e no entanto queimavam como entusiasmo de arder. Ignorei e ali fiquei a apreciar o calor. Vigilante, atento, diz no manual que nunca se deve ficar distante.
Levantei-me e senti o mundo a girar com mais violência do que é habitual. “Deve ser do pequeno-almoço fraco… hoje comi mal.” Pensei enquanto recuperava o equilíbrio, no meio de uma serenidade que me agradava. Respirei fundo e dei dois passos a traz, sentei-me no tronco cortado. Fiquei imóvel, com o olhar cansado, no entanto, dentro de mim, pensamentos novos surgiam e fugiam. Ideias bruscas que não me deixavam sossegado. O fogo parecia poesia bailarina, nascida da terra, com músculos soltos e tendões quentes em membros irrequietos que só querem mexer. Senti o cheiro do fumo, doce ácido, levou-me a compreender que não era um lume qualquer.
Vi a mancha cinzenta pelo céu se perder. A confundir-se nas nuvens carregadas, próprias da época, prontas a chover. Olhei para as fachadas dos edifícios e foi neste momento que começou tudo a acontecer.
Um jovem veio à janela com um saxofone que me parecia enorme, com o seu sopro começou a tecer uma melodia forte serena. Do extremo oposto surgiu uma senhora que nunca saia de casa e pôs-se a cantar, como se quisesse acompanhar, o jovem que tocava de olhos fechados, nada o podia incomodar. Aos poucos as janelas, uma por uma, foram-se abrindo. Corpos vindos do interior do betão foram surgindo. Reparei que as pessoas começavam a comunicar, pareciam estar a combinar, o quê não sei, mas pareciam determinados. Falava das janelas uns para os outros e pareciam se corresponder. Uma coisa é certa, estavam alegres, numa alegria rara, rara de acontecer. No telhado do prédio mais baixo surgiram três pessoas. Uma com um bombo, outra com uma tarola e a mais alta com dois pratos de choque. Surgiu outra que seu pôs em linha com os outros, soprou um apito e começaram a batucar. A mulher que cantava, parecia ter sentimentos guardados numa eternidade, aquela voz parecia não ter idade. Ao lado do jovem saxofonista, surgiu uma rapariga que rapidamente compreendi que era trompetista. As janelas não paravam de se abrir, um movimento que estava sempre a se repetir. Olhavam todos uns para os outros, falavam sem eu compreender, até ao momento que vi para crer. Explosões de folhas de papel, rebentavam de dentro para fora dos edifícios. Milhares a descer numa leve e calma queda, a atmosfera rapidamente ficou sem nada para preencher. Folhas de todas as cores, papel de todos os feitios. Os animais pareciam estar a enlouquecer. O galo cantava fora de horas, o coelho corria a traz da galinha, amedrontada, fugia como se tivesse medo de levar uma dentada. O gato dava saltos no ar, parecia que queria a gravidade desafiar. As folhas de todas as cores e feitios aos pouco vinham ao solo poisar, mas não por muito tempo porque aparecia sempre alguém pronto para as apanhar. Quando já não tinham braços voltavam a se esconder dentro dos prédios cheios de gente a festejar, um festejo absurdo que me animava até a minha melhor gargalhada se soltar. Doze janelas, uma dúzia de pessoas afinadas, começaram a fazer coro, pareciam querer acompanhar aquela senhora que nunca saia do seu lugar, tinha estado a guardar uma voz de ouro. De cima de um muro surgiu um trombone, nas escadas dois pares de violoncelos e quatro violinos faziam as cordas vibrar. Uma algazarra louca que parecia não acabar.
As minhas pernas não me deixavam levantar e aquela multidão parecia que em mim não estavam a reparar. Olhei de novo para o fogo e a chama crescia, na vertical vencia. Ficou da minha altura, uma língua quente que subitamente ganhou a forma de gente. Um homem de braços e pernas a correr. Por vezes surgia um rosto fugidio, trazia uma expressão contente, vitoriosa, aquela face de vencedor, um sorriso de vitória, de quem fez frente. Veio do fogo e não era demónio, não era anjo nem gente. Era fogo espectro filho de seres divinos, penso eu, alguém que nunca morreu. Uma visita de pasmar, uma figura que cortou o meu respirar.
Aos poucos as pessoas foram parando, os animais regressando á calma habitual. A chama foi minguando. Aquele frenesim e aquele elemento da natureza, estavam um para o outro como se fossem viajantes que se vão acompanhando.
O saxofonista parou com um beijo na trompetista que o entusiasmou. A senhora escondeu-se com um sorriso na cara que mirava o coro que nunca desafinou, ao mesmo tempo lançaram doze beijos e rapidamente aconteceu o seu recolher. Aos poucos as folhas aterravam, foram sendo recolhidas e já não voltavam a aparecer. As cordas pararam de vibrar, o trombone parecia corar e caio na graça do silêncio. O bombo, a tarola largaram o ritmo, os pratos chocam mais uma vez, fazem o silêncio regressar. O galo desmaiou, a galinha desistia e dormitava com o coelho satisfeito que já ressonava. O gato veio deitar-se no meu colo e ficámos a ver os restos incandescentes do fogo; a apreciar o regresso da noite e o cantar de um grilo que fazia o seu chamamento, calmo e pachorrento.
Veio uma chuva miudinha, fez as brasas soprarem. Levantei-me leve, sorridente, esfomeado porém. Nessa noite a cidade adormeceu cedo.

sábado, 16 de outubro de 2010

Tatuagem na memória 2

Não me posso esquecer, não me posso esquecer.
Deixo de sentir o meu corpo, sinto apenas a musica, nota por nota como copos para me embriagar. Desaparece o edifício familiar, a rua, a cidade, eu e a noção daquele lugar. Fica apenas aquele som que me veio soltar.
Não me posso esquecer, não me posso esquecer.
Sei porque vim para aqui, foi para me perder. Para encontrar algo dentro de mim, um sítio, uma imagem, talvez uma recordação de tempos em que a esperança estava no altar, prestes a casar com o desejo de afirmar.
Não me posso esquecer, não me posso esquecer.
Um passeio nocturno, de mão dada com a alma gémea. Eu a caminhar lado a lado com a Majestade do meu país, que dada a sua ausência está agora infeliz. Mostrou-me o meu nome pintado na parede, levou-me a uma festa para matar a sede.
Não me posso esquecer, não me posso esquecer.
Regresso a mim. Regressa a cidade, a rua, aquele edifício. Regresso ao meu corpo e a janela mergulha no silêncio docemente como se não me quisesse acordar. Regressa uma brisa menina que me acaricia o rosto, na testa uma pinga pequenina.
Não me posso esquecer, não me posso esquecer.
Sobe o vento, cresce a chuva. Na janela sinto um respirar, uma sombra, uma silhueta turva, uma mão a chamar. Avanço até a porta e calculo o botão da campainha que devo carregar. Carrego. Ninguém atende o meu chamar.
Não me posso esquecer, não me posso esquecer.
Ajeito os meus trajos e volto a espreitar à janela. Não está lá ninguém e sei que não estou a delirar. Resigno-me à sua vontade, volto para a arcada, para do temporal me abrigar. Sento-me no chão, não resisto em me deitar.
Não me posso esquecer, não me posso esquecer.
 Embrulho o meu corpo numa posição fetal. Sinto o frio e a ausência de vontade de me levantar. O peso dos olhos faz-me chorar, lágrimas que se confundem com a chuva pura que está em todo o lugar.
Não me posso esquecer, não me posso esquecer.
Mergulho no sono, afundo-me num sonho. Sinto um corpo nas minhas costas quase a me abraçar. Sinto um dedo dentro de mim e uma mão a quer me esticar. Uma vontade enorme de chorar. Uma preocupação num coração a saltitar.
Não me posso esquecer, não me posso esquecer.
Uma voz que diz: “…é mais forte do que podem julgar.”Diz e eu quero acreditar. Sonho sem imagem, apenas sentidos cegos, cheiros, sons, tacto e paladar. Arroz de pato é estranho, é intruso e no entanto neste sonho é facto.
Não me posso esquecer, não me posso esquecer.
A imagem de um serviço de talheres, banhados a prata que o tempo veio estalar. Não é meu, meu é apenas a cobiça de com ele ficar. Um raio do sol surge para me despertar. Levanto-me do chão duro e na janela fixo o meu olhar.
Não me posso esquecer, não me posso esquecer.
Gotas de água descem das folhas amarelas, castanhas. Verdes eram dantes, nas possas abundantes, pingo a pingo insistem em não secar. Está complicado o meu acordar, o meu corpo está dorido e as minhas pernas tremem, as mãos fedem.
Não me posso esquecer, não me posso esquecer.
Lisboa acordou. As pessoas passam por mim e fingem não me ver. Coço a cabeça e escondo a vergonha, recomeço a minha caminhada um pouco a aqueçer. Sinto fome e vejo um café aberto, ocorre-me a ideia de que é lá que desperto.
Não me posso esquecer, não me posso esquecer.
 Aproximo-me atento ao meu redor. Olho para todos os indivíduos, especialmente quem é consumidor. Uma mulher limpa as pálpebras com as pontas dos dedos, acompanhada por dois homens que parecem segurar os seus medos.
Não me posso esquecer, não me posso esquecer.
Sinto uma confusão dentro de mim, os meus pés outrora dormentes, estão agora dementes. Contrariam a minha primeira vontade. Insistem que precisam marchar, gritam lá de baixo que foram feitos para andar.
Não me posso esquecer, não me posso esquecer.
Contrariado arranco as folhas de uma árvore, deposito nelas a angustia de estar a perder. Desfaço-me delas, com a franca facilidade, como se fossem tudo o que não quero. Inspiro e trauteio a melodia de ontem. O presente tempero.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Poema achado.

"Honra, lealdade, fé no bem.
São três as ordens pelas quais me afirmei.
Abdiquei de muito e muito recusei.
Causei dor bem sei,
Está reflectida em mim, sinto,
Sei o que causei.
Depositei mal o meu primeiro beijo,
E sem desejo desvirginei.
Por isso esqueci e bem sei que magoei.
Prometi e cumpri, para me redimir
E por amor tenho que admitir:
Estou só, com medo de me iludir.
 Bebi para esquecer, fumei para aquecer,
Envenenei o meu sangue para adormecer.
A loucura bateu-me à porta e eu atendi,
Visita ingrata que me veio prender,
Nos tempos em que tinha tudo a perder.
Meu monstro. O outro eu… presente.
A verdade pode ser humilhante,
Mergulho na mentira mais brilhante.
Aguardo um novo encontro distante,
Com a felicidade, com a alegria,
Refiro-me à verdadeira, não a fantasia.
Casa banco de jardim, telhado de cartão,
Cobertor de plástico, o cheiro da maresia.
Lisboa me acolhe e embala no seu chão.
Lisboa, eu sou tu. Lisboa no teu coração."

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O mundo ás costas.

Existem homens que carregam o mundo as costas. Sentem o seu peso a cada passo que dão. A rota é indefinida, não tem mapa ou bússola apenas um bilhete de ida. Dizem que na frente dos seus olhos existe uma cortina e no braço uma mão que não desiste. Insiste na caminhada, quer ver a beleza bem contornada, o amor por excelência tem que ser tratada. Nunca sentiram a pele da mulher amada e fazem a cama debaixo de uma arcada. Poisam borboletas na sua cabeça, descem até ás mão, voam para longe. São uma espécie de monge cujos silêncios ecoam nas colinas da solidão. Quando passam as árvores ficam despidas, os frutos maduros; surgem palavras escritas nos muros, duros e mudos.
Existem homens que não sabem acabar. Que acreditam que o mundo ainda tem muito para dar e que o principio está prestes a começar. São amantes perfeitos, perfeição de corações desfeitos. São francos de opinião e por isso lhes retiram a razão. São a resistência à demência, à loucura… enfrentam a fome, a sede e a carência de carinhos é medida que não se mede. Procuram para encontrar, apenas para constatar que este mundo ainda tem muito para salvar. Fazem do nada um pequeno tudo, mesmo quando em sentem o peito mudo.
Existem porque existem. Não querem que se saiba. Escondem-se na luz, choram nas sombras. Carregam o mundo as costas, para que durmas bem, o sono que gostas.

domingo, 10 de outubro de 2010

Tatuagem na memória. 1

Para onde vai tanta chuva. Para onde se dirige? Penso enquanto caminho, com as mão dentro do sobretudo. Bate nas costas com o vento, pingas grossas batem como folhas fantasma, vindas a cobardia.
Não me posso esquecer, não me posso esquecer.
Passam dois carros a meu favor, vejo as matrículas mas não memorizo. São-me familiares. Leio “ritz” escrito a spray the tags way. Deixo-me rir porque sei. Penso quando pedes com o extremo do fervor. Dizes: “fica” e eu fiquei.
Não me posso esquecer, não me posso esquecer.
Passam dois casais em silêncio, passo apressado e desorientado. Não perguntarão, nada, não reparam em mim, talvez seja da minha figura fechada! Também desorientada. Sinto-me mais sem rumo, do que o desconhecido, o medo de ir ao nada.
Não me posso esquecer, não me posso esquecer.
Paro de pensar. Sinto a chuva que investe na minha metade de traz. Vejo oito camiões pesados a passar, carregados de areia. Lembrei-me de uma ideia e sinto que a noite está bem cheia, de água certamente, que no código ninguém me chateia.
Não me posso esquecer, não me posso esquecer.
Paro de andar, mentalizo-me que tenho de escrever. Por enquanto não, a ocasião não deixa e a chuva não quer parar de chover. Alem disso, sinto já as repetições, creio que me faço entender. È aqui que recomeço a pensar.
Não me posso esquecer, não me posso esquecer.
O vento segreda-me num silvo o que quero ouvir, o que preciso e começo a sorrir. Os tascos estão fechados e as discotecas estão demasiado embriagadas para me servir. No balcão existe gente bonita e agradável, mas o preço não me faz sorrir.
Não me posso esquecer, não me posso esquecer.
Passo as mãos da cara molhada, procuro perceber o que está diante do meu caminho. Seguro o colarinho e sacudo o corpo. O vento começa a acalmar e a chuva enfraquece na vertical. Reparo no que o meu rumo me foi dar. Recomeço a caminhar.
Não me posso esquecer, não me posso esquecer.
Aproximo-me devagar de um edifício que me é familiar. Começo a sentir que estou a suar e reparo na única janela que alguém quer iluminar. Seis laços colados nos vidros, paredes forradas de livros. Uma melodia a tocar.
Não me posso esquecer, não me posso esquecer.
O vento pára. A chuva também. A luz na janela apaga, a melodia mantém-se porém. Oiço com mais nitidez, é um violino que sai de um gira-discos, notas que me tocam com nudez. Abrigo-me debaixo duma varanda. A música comanda.
Não me posso esquecer, não me posso esquecer.
Começo a balançar o corpo até começar a dançar, numa dança tímida. Fecho os olhos e sinto a água a escorrer… aquele violino, instrumento que abafa o meu tormento… os meus pés fazem girar o corpo. Gabardina aberta a esvoaçar.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Chuva de Outubro.

Com a chuva veio um clarão, depois um trovão. Chuva na horizontal, acompanhada pelo vento brutal. Água doce, fresca, pura. Limpa-me o terraço e o quintal. Rega-me a horta, lava as latrinas, alaga as ruas e traz lembranças tuas.
Descasco uma romã. Bago a bago, penso na tua boca e na minha vontade louca. Encho uma tigela, olho para a janela aguarela. Recordo o teu afago, nas minhas mãos, destas que trago sempre no corpo.
Espero a noite. Alimento o dia. Respiro a terra molhada e oiço o gato que mia. Olho para a minha casa vazia, quente, seca, onde outrora o Sol batia.
Saio. Quero sentir a humidade, já sento a saudade.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Bonita, bonita.

Por amor me guardo. Tenho no meu corpo as minhas juras, na alma o teu espelho. Acredito em ti. Por amor não te prendi. Por isso não parti. Confio em ti. És firme e persistente. Sei bem quem conheci… não existe outra igual. Dedicada, empenhada… com voz do coração. Tens a valentia dos antigos… tens a Lua, por isso tens o Sol.
 És leal, real, preciosa, valiosa. Tens o tempo, tens o que por ele passou. Tens-me a mim e tudo o que o ensejo nos ensinou, tens a bravura de quem já enfrentou. Tens a saudade de quem com devoção assim se guardou
Bonita, nesta boca és bem dita.

domingo, 26 de setembro de 2010

Sonho.

Dormia.
Um miúdo bateu à minha porta. Dizia que não encontrava a mãe. Chorava, como se tivesse perdido tudo, tinha no rosto aquele desespero que são socos no peito. Parecia que nada o deixava satisfeito. Andei por todos os corredores e cheguei mesmo a perguntar aos moradores. Sai do meu bloco com ele junto ao peito.
 Pedi para que não chorasse, mas as lágrimas e os soluços no esforço de abafar o desespero, pareciam inúteis. Palavras de um desconsolo tal que a mim me comoveu. Uma memória que não se perdeu, um reflexo de mim nos seus olhos molhados, uma troca de posições em perfeita sintonia. Um peso quente e húmido nos braços a querer dizer por onde ir e a descrever de quem não se queria perder. Que imagem procurei eu? A mãe dele? A minha? Muito provavelmente nenhuma destas, julgo eu. O seu choro quase ficava o meu, não sei o que me deu. Parei. Poisei-o no chão. Respirei fundo e pus-me direito. Passei as mão na cara e fiquei a observa-lo. Pus o meu melhor sorriso e disse-lhe: “não tenhas medo, tem coragem… vais ver é só estalar o dedo”. Estalei… o que me foi acontecer, desapareceu diante dos meus olhos… súbito, não o vi a ficar distante.
Voltei para casa. Confuso, desconfiado e no entanto sentia-me abraçado. Foi-se embora da mesma maneira que apareceu, contudo, na partida a porta não existiu. Fundiu-se num tudo, onde a sua figura se escondeu? Entrei em casa e fui para a sala descansar. Julgava eu.
Leitor atento, leia o que me aconteceu.
Estendida no sofá, sem roupa e sem pressa. Uma mulher, da minha altura, com a minha estatura, sorri. Senta-se sem parar de olhar para mim, mantém as pernas entreabertas e as costas direitas. Baloiça o peito com um movimento de ombros. Encontro os seus olhos no meio da minha cintura e os lábios a mostrar os dentes de satisfação. Poisa uma mão no colo, a outra estende-se até mim. Toca-me e diz que tem saudades, fica corada e depois a mim abraçada. Um abraço com a mais perfeita medida, força e carícia. Pontos quentes…. Húmidos. Sentada no meu meio dentro da sua metade a baloiçar, a sorrir, a gemer… eu a ver acontecer, sem palavras, sem respiração. Aperto-lhe a cintura, inspiro e levanto-a no ar. Expiro e deixo-a poisar. Os olhos ganham outra expressão, indicam outra dimensão… os corpos encontram-se e despertam um trovão, um relâmpago e uma chuva calma.
Com calma retomei a respiração, senti o calor e senti-me grato por esta aparição. Suavemente as nossas peles pararam de se acariciar e os olhos começam pesar. Poisou a cabeça no meu ombro e fui adormecendo a ouvir o seu respirar. Senti o seu corpo a separar-se do meu e uma voz familiar a dizer, “Está quase meu amor, está quase.”. No meio de um nevoeiro fico a vê-la abrir a porta… saiu, nua, com um sorriso consolado. Fechou a porta e a televisão acendeu-se. No ecrã vejo o miúdo a fazer-me adeus, por baixo vejo uma legenda que dizia: “gostava de ser tu.”
Adormeci.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Birra de sono.

Sem posição possível, meia volta na cama e sinto a ausência
Volta completa na minha cabeça e não encontro a essência
Sei que a distância ajuda-te a segurar o que tens, o que ninguém pode levar.
Tens medo do que tenho para perguntar? Olha que é pouco e respondes se souberes.
Tens medo de um tudo em mim? Arranja coragem então, sê rápida se puderes.
Olha para isto, já nem sei bem como me dispo, sei bem que insisto.
Porque disse isto. Camadas e camadas de folhas escritas a saírem do corpo,
A esvoaçar na atmosfera, palavras de todos os tipos e feitios.
Dita-me a almofada que hoje não durmo e não dormi.
Fiquei a olhar para todo o lado, para tudo o que já conheci.

Quatro estações.

Outono. Vai para lá de um ano que miro uma janela. É igual a tantas outras, não fosse o que tem dentro dela. É o silêncio, o mais completo momento na ausência de ruído. Vejo-a do meu quintal.
Certo dia, não pode deixar de ouvir um grito. Um pedido de ajuda, uma voz estridente na minha direcção. Olhei para todas as fachadas dos edifícios circundantes, esperando encontrar alguém. Apenas vi um rosto, numa cabeça, num pescoço, num tronco com braços… cabelo longo. Só vi uns pedaços. Fugiu. Silencio brusco.
Inverno. O compressor estava a trabalhar e ouvi alguém a declarar. Voz altiva, amiga, parecia estar a convidar. Ouvia em subconsciente. O motor pára com um espirro e a melodia falada revelou-se. Uma declaração de amor, um peito aberto a dizer calor… paixão e tesão. Giravam as minhas orbitas, girava o meu crânio, o meu corpo em desequilibro até aterrar completo no chão. Olhei para a relva e senti olhos na minha direcção. Castanho, castanho caju. Pele clara. Lábios cheios, olhos grandes e cabelo esvoaçante. Cheiro doce por entre a erva molhada. Ombros, duas mãos, uma mascara. Seios, ventre, anca, pontas de “V”, um traço… silencio e beijos. Beijos na minha direcção; direcção da boca. Desce o cortinado e apaga a luz.

Primavera. Ouvi musica todo o dia. Vinha daquela janela. Musicas com poemas. As luzes sempre acesas. Musica que parece não acabar. Ouvi de tudo, alegrias e o lamentar. Por vezes até o demónio a expulsar. Ouvi gargalhadas e pedidos de perdão, tudo isto em forma de canção. O que queria dizer com aquilo, porque é que estava tanto a acontecer. Vinte e quatro horas de mensagens espalhadas no ar. Uma azafama constante de instrumentos musicais e vozes dos por demais. Bons e maus momentos, tal como os dias. Por vezes parava de ouvir, simplesmente parava de fazer o esforço, e as memórias faziam-me suspirar. Foi assim até ao último dia, ouvir e com força no respirar, por não a ver e não parar de escutar.

Verão. Sentia saudades de ouvir grilos. Do prédio quase vazio. Da cama de baloiço e de uma cerveja gelada, nas noites quentes e pequenas. Saudades dos estendais com pouca roupa, do fogo de rua e da carne assada sem penas. Da fruta, do tanque antigo, da sombra. Das leituras em dia, dos passeios, das idas a praia, da visitas a quem é amigo.
Adormeci ao relento, embalado pelo tempo. Acordei de rompante com uma luz forte e incandescente. Uma ordem para eu seguir: “Para diante, para traz, vai-te embora, volta se fores capaz.”
Encolhi os ombros e voltei as palmas das mãos para cima. Com o rosto fechado enfrentei o ponto de fuga e gritei: “Porquê?”. A resposta que tenho é minha, é pobre, é: Tem que ser.
O foco apagou-se com um ponto incandescente, naquela janela sempre presente.

O Outono voltou. Já senti algumas pingas. Toquei na sua campainha doze vezes, deixei dois presentes e recados, a pedir encontros, no entanto, tudo o que tenho são desencontros. É uma janela que me faz acreditar, que sente atracção por mim e me testa, que me afasta e que me aperta. É o tempo e o que acontece nele, é o esforço para dizer que o meu peito também aperta… o desejo da descoberta.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Encontros com a Lua.

Claridade, tanta claridade a noite passada,
A cidade adormecida estava toda iluminada.
Luz azulada, vinda da lua e do céu negro,
Nuvens vizinhas, nuvens carregadas.
Redonda, lá em cima recortada.
Parece o rosto de alguém no esforço do canto
Que deseja ver a sua alma amada, um encanto.
Ou o rosto de admiração por estar a ver quem ama;
Por isso cantava a canção e não me deixava ir para a cama.
Julgo que canta para o Sol, estrela solitária
Canta para mostrar que está solidária
Vi uma mulher na janela, estava a contemplá-la
Ouviu o seu canto, sorria, murmurava: “Como é bela”.
Sentei-me ao seu lado, não se moveu, não perdeu a graça.
Disse: “ Fica mais bonita quando o sol a abraça”
Ficámos a ouvir o seu canto até que o sono, por fim, venceu.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Quadra dáda.

Dou-te o meu indicador para ser cravado, dou de agrado.
Sempre dei o peito, as mãos e a cabeça. Dou, fui guardado.
Lá fora gritam de dor, de incompreensão, dizem: “mal amado”.
Eu grito alegre a quem grita: “tu não compreendes o fado!”

Quadra suspeita.

Creio que o que temes é o contrário de mim e não eu.
O que desejas pode ser teu. Acaricia a mão, o que é meu.
Morde o lábio de baixo, o dela, o que é seu.
Juro que amei o que vi e o que senti … todo teu.

Memorias repentinas 4.

Era sempre naquele jardim, de pé, quase encostados
Falava-mos baixo, como se as arvores tivessem ouvidos;
Conhecia-mos os riscos que foram pelo diabo lambidos.
A relva, a sombra, a vista, as flores, os deveres estudados.

Memórias repentinas 3.

Lembro-me de um abraço que fez o mundo girar nos nossos pés.
Lembro-me do teu sorriso e da ternura naquele ambiente campestre.
Lembro-me de querer ser melhor e do deposito de todas as fés.
Dominar os meus próprios monstros e de querer ser mestre.

Memórias repentinas 2

Não podíamos sequer um beijo, uma carícia.
Tudo na escola de Platão, na imensa espera;
A vergar a mola do papão, domar a nossa fera,
Fazia-mos promessas e mapas de quimera.

Memória repentina.

Foram rápidos todos todo momentos contigo.
Tinham que ser rápidos e em segredo, tinha-mos medo.
Olhar trezentos e sessenta, o amor não se enfrenta
Protege-se, talvez, assim é comigo.

Poema criado

Fui criado por barões almados e todos me querem bem,
Faço sinal com bandeira branca porque a todos convém.
Afinal de contas, e de palavras soltas ela aqui me tem.
Publicado de borla, por mania e convicção, fronteira além.

Bom 2.

Desejar sempre o bem, se ao amor for do agrado,
Confiar na sabedoria de quem te quer bem, saber ouvir, falar e observar.
Respeito. Analisar a fundo a tua alma e saber explicar.
Bom estado de loucura, é como querer rimar.

Bom.

Acompanhar e ser acompanhado. Descobrir prazeres e de ser bom aliado.
Estar disposto a oferecer o que se pode dar, receber de bom agrado.
Saber ser amado, amigo e companheiro, abraçar o bom fado.
Ser criativo e ter paixão, ser verdadeiro e educado.

Bem vindos.

Isto é um edifício. Eu moro ali em cima. Lá em baixo é o meu quintal.
Estamos neste momento a meio desta construção, do prédio virtual.
Encontramo-nos na divisão que eu mais gosto, a do meio, individual.
Sois bem vindos e bem vindas, podeis comentar, pois então pessoal.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Aniversário.

Pois então, faz hoje quase mais de metade da minha vida em que conheci o meu primeiro amor. Não consigo dizer porque não deu. Mas não deu. Creio que não podíamos. Talvez a violência do tempo, tempo esse em que não havia tudo e o medo de perder era imperial. Mais de metade da minha vida, porque talvez as castas sejam diferentes e teimosas no toque entre si. Pergunto-me se este exagero não será por causa da mais tremenda atracção.
Bem dita seja a verdade e bem celebrado este meu desejo. Fez-me fazer o que muitos imaginam e poucos suportariam. Não sei faze-lo de outra forma senão dizendo que vou continuar a esperar e a procurar, firme. Bem dito seja o dia em que a volte a encontrar.
 

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Alma 2.

Oiço-a a gritar: “para ser dono do bem, com ou sem fados, não só é preciso compreender as verdades, como estimar o problema e os seu derivados.”Coisa loucas: “Rainha branca, come a preta e fica cinzenta, mais astuta, mais atenta”, “lua, bela e sagrada, dá-me o teu sorriso que a mim tanto agrada”ou “…podes ser tudo o que quiseres…”. Creio que existe um sorriso na sua cara. Sei, não é som de triste, é alegre, a felicidade ampara.
Existem outros sons… fala do medo e do vestido rasgado. Das garras que foram mãos, das luvas e dos irmãos… das saudades. Dos amantes visitantes sempre, sempre distantes. Dos papelinhos espalhados, das partidas, os pedidos de perdão, as invocações do choro, a comoção da imensidão.
Dá-me sempre uma saudação, seja como for. Cumprimenta e afasta-se vá para onde for.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Alma.

Por aqui todos entram, comem, dormem, convivem e saem.
Ela só sai e entra. Barrica-se no silêncio, tudo pára.
Os vizinhos dizem que fala com as árvores, que se põe imóvel.
Que o seu corpo fica tenso, suspenso no ar por fios invisíveis.
Vende a alma, partilha os seus vazios por preencher.
 Dizem que foi aprendiz e hoje é mestre de possíveis.
Fique horas a olhar para a sua porta, sentia a sua tempestade morta;
Majestade da espera, uma princesa domadora da sua interna fera
Lá fica ela na sua materna esfera, insanidade que se diz paterna, da guerra e da quimera.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Estalajadeiro.


Sei cavar, semear e regar, tenho um jardim e uma horta, um galo e uma galinha, um coelho e um gato que não se importa.
 Entendo o clima e estas paredes, conheço a sua sede. Areia e pedra, pouco cimento porque é velha cadente como o seu criador, esse sim, já não sente a dor.
Sinto saudades da minha prometida, tornei-me no que sou e espero que não esteja ofendida. Á treze anos que espero, a três que não oiço a resposta que quero. O correio parou de entregar e de receber, aqui fico eu a sofrer, sabendo que ficou muito amor no meu entender. Foi uma despedida breve com promessas que no corpo e na alma… revelar segredos não, não me peças.
Onde ficou a tua calma? Terá sido comigo? Aqui sou conselheiro, confidente e amigo. Prestável para todos, só não sei ser relojoeiro. Respeitam-me, ajudam-me, tenho o cinto apertado mas vejo o meu coração é bem acarinhado.
 Jóias! Só na alma e as migalhas que ficam no papel, trituradas, filtradas e enviadas para este portal, esperando que ela oiça, responda e aconteça antes que a minha alma esmoreça. Segui-mos afastados, com a bússola e o relógio afinado, bem equipados, esperando o dia em que seremos amados. Nada me diz que não deixamos de estar apaixonados.
Luvas descalçadas. A fuga está estancada. Animais alimentados e tudo regado, está na hora de ver se o pessoal na escola está todo preparado. Despe o fato de macaco. Os primeiros dias são atarefados de questões, ilusões, muitas respostas e sem palavrões. É sempre assim que se repete há muitos Verões.

sábado, 28 de agosto de 2010

Por escrever:

Report from the quantum sphere
Baby craing. Silver fork drop on the floor
The father is traing to eat and grab the fork
The mother is traying to say quanto beautiful e tanto calor
Está naquela sala, onde sinto tudo ao mínimo o toque
Á mínima gargalhada, ao mínimo gemido.
The dogs dont bark over une hora…ui!
O que fui dizer… o que estou a descrever…
Hoje esteve a chover; é tudo o que oiço dizer.
Chover.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

domingo, 6 de junho de 2010

Caminhada insegura.

Ali ninguém fala. Anoitece, princesa, o valor, qual o preço do teu tórax dorido que não te deixa falar nem segurar a minha mão lá fora? Um gemido.
Este poema reflexo ruidoso do medo, da ansiedade e ficar silencioso.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Quedas.

Estou aqui. Com calma beija-me a boca que se alimentou do pomar sem matar. Quando quiseres. Aqui estás segura, mira esta armadura. Mesmo nu, eu luto. Incho o corpo, farei frente, entre os dentes.
Tenho ansiedade, tenho tanta ansiedade… ansiedade. Pronto. Pronto a enfrentar, agora sou. Isto é um gigante meu. Não temas. Podes descansar. Por aqui podes andar, ninguém te vai julgar, respeitam o meu amar; bandos de aves valentes, atravessam o mundo para a tua beleza apreciar e usam o seu canto para te embalar, na emotiva fraqueza queres saltar. Pois bem, cá em baixo estou eu, imóvel, pronto, forte, para te agarrar, não te obrigo a ficar.
Eu sinto o teu aproximar, faço vento vertical. Para eu ser a certeza faço um vendaval para te ver levitar, pairar. Cair devagar, estou erguido num colchão de penas pronto a te beijar, aqui em baixo o teu salto, aprendes agora o que é o teu alto.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Auto-retrato.

Sozinho nunca salvarei o mundo. Fui ser Anteros, aos olhos de Cicero, por ser filho de Ares e Afrodite, Eros é o meu irmão. Por isso os lobos uivam juntos, absurdos aos ventos nos tempos em que me sinto sem sono.
Traço uma linha na atmosfera, vejo melhor a esfera, cada pedaço recebido, ocupa o nada, retira-lhe o vazio.